Tal como outras danças sociais o Tango mostra todo o seu esplendor num ambiente de partilha e de convívio. É aí que a magia surge.
Os sons, as melodias, as letras, as pessoas, os olhares e os movimentos revelam o sentimento muito próprio e característico deste estilo de música e de dança.
Porque razão não é comum escutarmos tango nas já habituais noites afrolatinas? O espírito e o ambiente vivido são diferentes.
Existem hábitos e regras muito próprios das milongas. Mas vamos por partes.
O que é uma milonga?
Milonga é um termo com vários significados. Pode referir-se a um lugar ou um evento onde o tango é dançado mas também a um género musical. Normalmente as milongas acontecem em salões de baile ou clubes de tango. A música tocada durante estas ocasiões é o tango, a vals criollo e a milonga (entenda-se, género musical). As pessoas que frequentemente participam em milongas denominam-se de milongueros.
A milonga não tem a informalidade de uma vulgar aula de dança. É um momento com regras e formatos próprios.
A Ronda
No que toca a formalidade, as milongas apresentam-se de várias formas. Existem aquelas mais tradicionais, respeitosas dos antigos hábitos, e as mais relaxadas e descontraídas, mas, mesmo essas, regem-se sob a regra da Ronda. A Ronda define a direcção na qual se dança. Os vários pares devem formar um círculo e o sentido da dança é contrário aos dos ponteiros do relógio. Não se deve recuar enquanto se dança. Se o par que dança à nossa frente não avança devemos dançar sem sair do lugar (procurando movimentos mais laterais). Devemos também ter o cuidado para não cruzarmos a pista de dança. Os dançarinos mais experientes e com mais facilidade em deslocar-se dançam, geralmente, pelas mesas, ou seja, mais por fora do círculo. Antigamente esta era a maneira de mostrarem as suas capacidades ao público que não dançava e que estava sentado nas mesas. Os menos experientes dançam mais junto do centro do círculo pois têm mais dificuldades em fazer deslocações.
As Tandas
Nas milongas as danças dividem-se em secções musicais denominadas de tandas. Estas secções são conjuntos de 3, 4 ou 5 músicas, do mesmo género musical (tango, milonga e vals criollo) e sempre tocadas pela mesma orquestra. As tandas vão-se repetindo entre os vários ritmos. Entre as tandas são tocados pequenos fragmentos de um estilo de música diferente, que não induza à dança e que não seja tango. Este separador denomina-se de cortina. Habitualmente os dançarinos terminam as tandas com o mesmo par, considerando-se indelicado abandonar a pista de dança antes do final da sequência. Mesmo em milongas mais descontraídas é expectável que se dance duas a três músicas com o mesmo par. Caso esteja um pouco inseguro opte por começar a dançar a meio da tanda.
Saber estar
Não se esqueça que não está sozinho na pista de dança. Para além do seu par existem outros pares que estão também a dançar. Tenha sensibilidade, esteja atento ao que se passa à sua volta, dê espaço a si e aos outros (e sim, esta é uma responsabilidade de quem lidera).
Ao dançar não se fala. A música e a dança falam por si. Guarde as suas palavras para o final da música ou da tanda.
Mesmo que a milonga seja descontraída a pista de dança não é local apropriado para praticar ou ensinar passos com o seu par. Dance com vários pares.
A tradição diz que, numa milonga, o acto de convidar para dançar inicia-se à distância. As pessoas olham-se e com um ligeiro cabeceo poêm-se de acordo. A senhora caminha em direcção da pista de dança e o cavalheiro dirige-se ao seu encontro. A senhora não deve ir ao encontro do cavalheiro. Este hábito mantém-se desde os anos 30 em que as mulheres iam aos bailes acompanhadas pela mãe. Na altura os homens convidavam as senhoras à distância. Este hábito também se manteve para evitar uma recusa explícita a um convite. Muitas senhoras dissimulam o convite e dispersam o seu olhar pelo salão. Desta maneira, o código torna-se cómodo e pouco comprometedor.
Não importa se estamos em Buenos Aires ou noutro local qualquer… estes costumes fazem-nos sentir mais próximos da essência do tango.
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